Os dois grandes gigantes da ficção portuguesa do século XIX, Eça e Camilo, são vitimas, recorrentemente, de, digo eu, falsa dicotomia, mesmo quando de uma oposição em confronto.
Mas, fenómeno assaz curioso, os queirosianos, as mais das vezes não cultivam Camilo, mas, já o inverso não se ajusta à realidade. Os camilianos, haverá excepções, são-no, também, queirosianos, na medida certa.
Mas, o que espanta é a actualidade dos dois.
O olhar que perscrutava a realidade, a sociedade de então, vale, muitas vezes, para a nossa actualidade.
Vejam-me este primor camiliano:
"O Governo deve estar informado da situação infeliz das classes pobres do Minho e Trás-os-Montes. As providências adoptadas, no decurso de seis meses, para minorar o mal da fome foram vãs.
Discursaram ampla e cientificamente acerca de subsistências, formaram e reformaram decretos, aquietaram o povo que, estimulado pela fome, ameaçava a tranquilidade, e, ao cabo de estafadas pelejas jornalísticas e esperançosas providências ministeriais, a fome não diminui, aumenta; a desesperação não se mitiga, exacerba-se.
...O trabalho, bem remunerado, é o único expediente que pode reconciliar com a sociedade os que a exploram com desonra, porque ela não lhes dá emprego honesto."
Ontem, como hoje...
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. The End