O nosso embaixador em Paris recolheu uma série, interessante, de frases atribuídas a vários "autores", mas que nunca foram produzidas pelos ditos.
Pode certificar-se Aqui.
Podia-se acrescentar a esta lista um montão doutras.
Recordo-me de, pelo menos, duas.
"Vou deixar o socialismo na gaveta", atribuída a Mário Soares, mas que foi, apenas titulo aspado de um trabalho jornalístico.
De igual modo a "pai estou ministro", atribuída a Manuel Dias Loureiro, mas tratada de mesma maneira que a emprestada a Soares.
Para apreciarem a lista de Francisco Seixas da Costa, aqui se deixa publicada, com agradecimentos e a devida vénia:
«Na memória coletiva sobrevivem, por vezes, expressões que, não tendo nunca sido pronunciadas, passaram a constituir-se como mitos. Recordo o "play it again, Sam", que Rick nunca disse no "Casablanca", ou o "elementary, my dear Watson", que ninguém encontrará, posto na boca de Sherlock Holmes, em nenhuma linha de Conan Doyle. O debate político também se faz, muitas vezes, em torno de alguns desses mitos: Salazar nunca proferiu exatamente a frase "para Angola, rapidamente e em força", contrariamente ao que muitos portugueses pensam. Vem isto a propósito da circunstância de, desde há muito, ter visto atribuída uma frase ao antigo presidente da República, Jorge Sampaio: "há mais vida para além do défice". À volta desta frase tem emergido, ao longo dos últimos anos, uma imensidão de comentários. Porque tinha curiosidade em perceber o que fora efetivamente dito (e o contexto em que o fora, o que não é despiciendo), fui à procura do texto verdadeiro. E o que é que descobri? Primeiro, Jorge Sampaio nunca terá proferido a frase "há mais vida para além do défice". Segundo, a frase verdadeiramente dita pelo antigo presidente - "há mais vida para além do orçamento" - foi proferida num contexto específico que merece ser ponderado: "Mas como já disse, o problema orçamental da economia portuguesa, merecendo embora exigente e necessária atenção, não é o único. Há mais vida para além do orçamento. A economia é mais do que finanças públicas. O aumento do investimento, da produtividade e da competitividade da economia portuguesa é fundamental para o nosso futuro e requer o esforço continuado e empenhado de todos: governantes, empresários e trabalhadores. Uma economia competitiva não é a que se baseia em baixos salários, mas sim a que dispõe de um sistema produtivo moderno, inovador e tecnologicamente avançado, capaz de produzir bens e serviços de qualidade e bem valorizados nos mercados internacionais." Alguém discorda? Para alguns, "os fins justificam os meios". O diabo é que também esta frase nunca foi, contrariamente ao que a História acolheu, escrita por Maquiavel...»
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. The End