Terça-feira, 7 de Julho de 2009

Um poema

Isto

 

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

 

Fernando Pessoa

 

 

 


 

"Este poema é o devido contraponto à "Autopsicografia", à "dor lida" e até um pouco a Álvaro de Camps, o sensacionista (sentir tudo de todas as maneiras); "sinto com a imaginação", "Sentir? Sinta quem lê".
O que aprendi com J. A. Seabra em inolvidáveis aulas, foi que Pessoa afirma e desconstrói conforme ortónimo ou heterónimo. Uma maneira de ser múltiplo, como ele dizia. Pessoa ensinou-me muito sobre "as verdades".
Por essa época estudei noutra cadeira o rifonário português, ou seja os probérvos, suas temáticas, serventia e objectivos. No fim do estudo concluio-se que por cada provérbio há sempre outro que se lhe opõe. Ex:
"Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje" vs. "O que não se faz em dia de Santa Luzia, faz-se no outro dia".
"Com Deus tudo, sem Deus nada" vs "Fia-te na Virgem e não corras".
"Quem muda, Deus ajuda" vs "Atrás de mim virá quem bom de mim fará"

E há imensos exemplos, na "voz do povo, voz de Deus", que demonstram o puro valor pragmático e de "savoir vivre" e da diversidade de verdades e circunstâncias humanas.
Aqui toca-se em fundamentos de reflexão sobre a existência. Algo muito presente mo "drama em gente" de Pessoa.

Peço desculpa de me ter alongado. Mas, este estimado blogue, faz-me discorrer e equacionar, o que muito lhe agradeço. Logo, a culpa é sua.:)))))

I."

 

 

 

PS - Estas são  interessantes considerações sobre a poética de Pessoa, e não só, da minha amiga e grande poeta do Porto, Inês Lourenço, que eu muito prezo e estimo. J.A.

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publicado por weber às 15:45
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De Logros a 8 de Julho de 2009 às 01:31
Este poema é o devido contraponto à "Autopsicografia", à "dor lida" e até um pouco a Álvaro de Camps, o sensacionista (sentir tudo de todas as maneiras); "sinto com a imaginação", "Sentir? Sinta quem lê".
O que aprendi com J. A. Seabra em inolvidáveis aulas, foi que Pessoa afirma e desconstrói conforme ortónimo ou heterónimo. Uma maneira de ser múltiplo, como ele dizia. Pessoa ensinou-me muito sobre "as verdades".
Por essa época estudei noutra cadeira o rifonário português, ou seja os probérvos, suas temáticas, serventia e objectivos. No fim do estudo concluio-se que por cada provérbio há semore outro que se lhe opõe. Ex:
"Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje" vs. "O que não se faz em dia de Santa Luzia, faz-se no outro dia".
"Com Deus tudo, sem Deus nada" vs "Fia-te na Virgem e não corras".
"Quem muda, Deus ajuda" vs "Atrás de mim virá quem bom de mim fará"

E há imensos exemplos, na "voz do povo, voz de Deus", que demonstram o puro valor pragmático e de "savoir vivre" e da diversidade de verdades e circunstâncias humanas.
Aqui toca-se em fundamentos de reflexão sobre a existência. Algo muito presente mo "drama em gente" de Pessoa.

Peço desculpa de me ter alongado. Mas, este estimado blogue, faz-me discorrer e equacionar, o que muito lhe agradeço. Logo, a culpa é sua.:)))))

I.


De weber a 8 de Julho de 2009 às 10:17
Nuca me senti tão bem, como depois de a ler, na minha modesta condição de culpado.
Com sua autorização, vou "puxar" o seu comentário para junto do poema de Pessoa.
Agradeço-lhe desde logo.
Abraço grande e obrigado pelo seu saber pessoano.
J.A.


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