Os acontecimentos ocorridos no inicio do desfile do 1.º de Maio, em Lisboa, organizado pela CGTP, a central comunista, em que foi vitima Vital Moreira, integrante da delegação do Partido Socialista, conjuntamente com Vitor Ramalho, actual Presidente da Fundação Inatel e Ana Gomes deputada europeia, ainda vão dar muito que falar.
Vivemos numa democracia com 35 anos.
Em 25 de Abril de 1974 os capitães do MFA, num golpe militar engenhoso, derrubaram o regime bolorento e fascista que se tinha instalado no poder desde, com rigor, 1931, cavalgando um outro golpe militar, de Gomes da Costa, de 1926, que visava regenerar a República.
Em 25 de Novembro de 1975 as forças esquerdistas, dos SUV's, integrantes o Partido Comunista Português, a UDP, o PRP/BR, entre outros, que tinham para Portugal uma ideia de "democracia popular", sem partidos, sem liberdades formais, no limite - com um Partido Único e um pensamento único, foram derrotadas pelas forças capitaneadas, militarmente, pelo Grupo dos 9 (Vitor Alves, Vasco Lourenço, Melo Anunes,Vitor Crespo, Pezarat Correia, Franco Charais, Sousa e Castro, Canto e Castro) e, civilistamente, pelo Partido Socialista.
O actual Partido Comunista, liderado pelo serralheiro de Piriscoxe, o SG Jerónimo de Sousa, sonha com esses Abrís. Quando ele afirma: - Falta cumprir Abril. É, exactamente, a isso que ele se está referir. Tem, pois, um espirito desforrista.
Dizia-se de Alvaro Cunhal, erudito, intelectual brilhante, homem da renascença (principe, politico, poeta, romancista, desenhador, pintor, tradutor, cultor de linguas...), que, a ÚNICA coisa que lhe faltou: "a conquista do poder". Não foi capaz de o fazer.
Este Jerónimo de Sousa, fadista, jogador de malha, carteador de sueca, dançarino de pasodoble, sonha com isso: com os amanhãs que cantam...a Internacional!
Já sabemos TODOS o que significaria a tomada do poder pelos comunistas. Viu-se o que aconteceu na URSS e nos países da cortina de ferro. Vemos o que se passa na China Popular, na Coreia do Norte, no Vietname socialista, e na Cuba castrista.
Isso é o "paraíso" na terra: m,iséria, arbitrariedades, mortes, assassinatos, julgamentos sem defesa, pena de morte, ausência de liberdades (de expressão, de associação, sindical, politica e religiosa...) e vida boa para os do aparelho, os próceres do regime. Nesses países não havia e não há, onde viugoram essas ditadiras do proletariado, direito à greve! Esse é o modelo dos comunistas portugueses.
Voltemos, pois, aos desacatos (expressão feliz utilizada por Vital Moreira) do 1º de Maio.
Logo no inicio a delegação do PS, que como é tradicional foi convidado, expressamente, pelo SG da CGTP, e que os foi cumprimentar, e não levantou qualquer obstáculo ou reserva à composição da mesma, nem madou nenhum recado sugerindo que Vital Moreira seria "persona no grata", este representante do PS foi brindado com insultos, vitupérios, agressões e enxovalhos de toda espécie. O que mais se ouviu: "traidor"; "capitalista"!
Vital Moreira foi militante do PCP, creio eu de 1974 a 1986, catorze anos pois. Não saiu com estrondo. Não insultou ninguém. Não tentou contaminar o PCP. Retirou-se para a sua vida académica, como o fizeram Jorge Leite, Gomes Canotilho, entre outros. Não se deixou sequer envolver em lutas partidárias. Ainda hoje não é sequer militante do PS.
Então, porquê o ódio insano e as reacções que suscitou?
É um fenómeno equiparável ao ódio que os comunistas têm a Zita Seabra.
Vital Moreira foi um dos, provavelmente, mais brilhantes deputados pós 25 de Abril. Particularmente na Assembleia Constituinte e, depois, na primeira legislatura. Era a estrela comunista, uma espécie de Adamastor que os comunistas, capitaneados por Carlos Brito, lançavam contra as hostes do PS e do PPD.
Zita Seabra, quando Vital se afastou das lides parlamentares, ficou-lhe com a aura e o testemunho.
É este ódio empedernido, que saltou para a rua e vomitou Vital Moreira.
Mas, pode dizer-se, foi gente (com cara, que as televisões mostraram...) descontrolada, que não obedecia a nenhuma ordem. É verdade.
Depois de agredido, Vital Moreira, comentou para a RTP1: -Já vimos disto na Marinha Grande.
Exactamente em 1986, ano em que se afastou do PCP.
Mas, na Marinha Grande foi diferente. Estavamos em plena campanha eleitoral para as presidenciais. Mário Soares corria contra muitos candidatos e, sobretudo, contra Salgado Zenha, seu irmão de luta, padrinho de sua filha Isabel Soares e candidato apoiado pelo PRD e pelo PCP. A organização local deste, então dirigida por José Augusto e António Orcinha, decide promover uma "recepção" a Mário Soares, o ódio de estimação de Cunhal e dos comunistas. As coisas descambaram e Soares é agredido, estalos, socos e pontapés. As imagens correrram mundo!...
Creio que, na altura, nem houve declarações do PCP a lastimar os acontecimentos. A direita estava toda acantonada em torno de Freitas do Amaral. Na segunda volta, os comunistas tiveram que tapar os olhos para porem a cruzinha, no boletim de voto, à frente do nome de Mário Soares.
Tudo isto se cultiva no PCP. O ódio aos socialistas, ao Partido Socialista, aos representantes do Partido Socialista. Com este actual SG, essa memória é viva e é própria.
Mas o que é, porventura, interessante analisar são as reacções aos desacatos.
Carvalho da Silva, através dos camaradas, já pronto para discursar, tem informações que houve confusão com a delegação do PS. As declarações dele são atabalhoadas, minimalistas e a tentar desculpar os fautores dos desacatos. Não tinha ainda a dimensão dos acontecimentos...Depois, já fora do palco, adrede uma "ameaça" aos candidatos às europeias e às outras eleições: - Respeitem a dor dos desempregados e dos que têm fome.
Só à noite, na RTPN, pede, formalmente desculpas a Vital Moreira e ao PS e sustenta que quer manter contactos e relações cordiais com aquele Partido.
A primeira reacção do SG do PCP é manhosa. Ainda no recinto do 1º de Maio diz que não viu e por isso não pode comentar. À noite, Francisco Lopes, estrela rampante, chefe de Setúbal, deputado e membro da Comissão Política, já com instruções e já com conhecimentos das imagens viosionadas: -O PCP não tem de pedir desculpas a ninguém e que, outrossim, terá de ser o PS a pedir desculpas ao PCP pela suspeição que lançou sobre nós.
Não se comove sequer um pingo em relação aos desacatos e às agressões de que foi vitima Vital Moreira.
No outro dia, 2 de Maio, em visita à Ovibeja, Jerónimo de Sousa, reafirma que não tem nada a lamentar e acha mesmo que o PS vai tirar proveito eleitoral dos acontecimentos, citando, deturpando, a referência que Vital faz aos acontecimentos de 1986:- Já tive a minha Marinha Grande.
O ódio, a suspeição, aos adversários politicos vistos como inimigos, que é preciso destruir, aniquilar, isto é o caldo de cultura politica dos Comunistas, sejam eles portugueses ou de outra nacionalidade qualquer.
Se andam a propalar, nas suas células partidárias, que Vital Moreira é traidor e está mancumonado com os capitalistas, pois é isso que lhe lançaram à cara, no desfile do 1.º de Maio.
Impressionou-me a calma e a coragem de Vital Moreira.
É merecedor da minha solidariedade e do meu respeito, como democrata, como homem e como cidadão.
J.Albergaria
PS - Mapa com a localização dos campos de concentração soviéticos, 1937, GULAG's, onde eram metidos, deslocados às centenas de milhar, os "inimigos" do "povo". Não se sabe, ao certo, quantos morreram lá, mas contam-se por milhões!...
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