Domingo, 21 de Novembro de 2010

Obama, quo vadis?

Paul Krugman, liberal, apoiante de Barack Obama, prémio Nobel de Economia, comentarista no jornal i, finíssimo analista coloca questões deveras perturbadoras para o papel da América no mundo, para a "resolução" da crise interna e mundial. 

Leia-se o artigo o-mundo-como-obama-o-encontrou, coloca questões de uma relevância, que até doem.

«Quarta-feira, David Axelrod, o principal conselheiro político do presidente Barack Obama, pareceu dar a entender que a Casa Branca está na disposição de ceder às exigências dos republicanos de que os cortes fiscais sejam prolongados para os ricos bem como para a classe média. "Temos de aceitar o mundo como o encontrámos", declarou.
Mais tarde a Casa Branca tentou recuar em relação ao que disse Axelrod. No entanto, a afirmação foi reveladora em muitos sentidos. O mais óbvio é o contraste entre a postura de cão abandonado de Obama e a sua retórica inflamada enquanto candidato à presidência. Como é que o "Somos aqueles de quem tem estado à espera" chegou a isto?
Mas a ironia é mais profunda: a principal razão por que Obama se encontra nesta situação é que há dois anos não estava na realidade preparado para enfrentar o mundo como o encontrou. Parece-me que ainda não está.
As raízes das actuais dificuldades dos democratas estão na época em que Obama se candidatou a presidente. Repetidamente, definiu os problemas da América como algo transitório, e não substancial - os nossos problemas não resultavam de termos sido governados por pessoas com ideias erradas, mas de as divisões entre os partidos e a política de assobiar para o lado terem impedido os homens e as mulheres de boa vontade de se unirem para os resolver. E o que ele prometeu foi transcender essas divisões.
A promessa de transcendência pode ter sido um bom argumento eleitoral, embora mesmo isso seja questionável: as pessoas esquecem a que ponto a corrida presidencial estava renhida no princípio de Setembro de 2008, como os democratas estavam preocupados, até que Sarah Palin e o Lehman Brothers provocaram a reviravolta. No entanto, a verdadeira questão é se Obama podia ter mudado de discurso quando teve de enfrentar a tempestade que todos os que recordavam os anos 90 sabiam que estava prestes a desabar. Obama sabia animar as massas, mas seria capaz de lutar? Até agora a resposta tem sido não.
Logo nos primeiros tempos da sua administração, o que Obama devia ter feito, acima de tudo, era lutar por impor um plano económico à altura da crise. Contudo, começou por negociar consigo mesmo antes ainda de ter de negociar com o Congresso, e propôs um plano clara e grosseiramente insuficiente - para a seguir permitir que esse plano fosse ainda mais reduzido, tudo isto sem um protesto. A incapacidade de lidar firmemente com a economia, mais que qualquer outra coisa, é responsável pela derrota esmagadora nas eleições intercalares. Mesmo que tenhamos em conta as enormes dificuldades que a economia atravessa, os esforços da administração para limitar os estragos políticos foram surpreendentemente fracos. Não surgiram slogans fortes nem houve declarações de princípios firmes; a mensagem política da administração não foi ineficaz, foi invisível. Quantos eleitores terão sequer reparado na mudança constante de tema de campanha? Alguém se lembra do "Verão da retoma"? Andava por aí, enquanto a catástrofe espreitava.
Depois das eleições as coisas não melhoraram. Vejamos as afirmações recentes de Obama em duas frentes.
Na cimeira, previsivelmente estéril, do G-20 na Coreia do Sul, o presidente respondeu às exigências da Alemanha e da China de que a Reserva Federal interrompesse a política de "facilitação quantitativa" - que, dada a obstrução dos republicanos, é um dos instrumentos financeiros que restam para promover a recuperação económica dos Estados Unidos. O que Obama devia ter dito é que os países com grandes superavits comerciais - no caso da China conseguido graças a uma manipulação cambial a uma escala sem precedentes na história universal - não têm nada que interferir na maneira como os Estados Unidos procuram defender a própria economia. Na realidade, o que disse foi "Tanto quanto percebo, o objectivo desta medida não foi desvalorizar o dólar". Que espírito tão combativo!
Depois há a questão dos cortes fiscais. Obama podia e devia atacar incansavelmente os republicanos por manterem a classe média refém dos cortes nos impostos dos ricos. Podia mostrar que tornar os cortes fiscais de Bush permanentes vai onerar fortemente o orçamento - ao longo de 75 anos pode custar tanto como o total do défice da Segurança Social. Em vez disso, mais uma vez, está entretido a negociar consigo mesmo, tudo isto antes mesmo de se aproximar da mesa das negociações com os republicanos.
A questão é que, apesar de tudo, Obama continua a ter um imenso poder: a questão é usá-lo.
Internamente tem o poder de veto, o controlo do Senado e visibilidade suficiente para forçar a agenda política. Continua a ter autoridade executiva suficiente para agir em questões como o auxílio ao pagamento de hipotecas - há milhares de milhões de dólares que ainda não foram aplicados, para não falar da possibilidade de intervenção proporcionada pelo controlo da Fannie e do Freddie.
No estrangeiro, continua a ser o líder da maior potência económica - e uma das áreas em que decerto conseguiria o apoio dos dois partidos seria num enfrentamento firme da China e de outros maus protagonistas da cena internacional. Porém, nada disto importa se não se decidir a usar o poder que tem, a assumir por fim uma postura firme. Os augúrios não são bons.
Economista Nobel 2008
Exclusivo i/The New York Times»

 

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publicado por weber às 10:20
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